sábado, 27 de março de 2010

METODOLOGIA DA FORMAÇÃO LITÚRGICA

Brasilia, 17 de março de 2010
Lit – no. 0145/10

METODOLOGIA DA FORMAÇÃO LITÚRGICA
Como iniciar à participação na liturgia

Estimados irmãos bispos, presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, formadores e formadoras, agentes leigos de pastoral, enfim, todos e todas que estão “com a mão na massa” no ingente trabalho de formação litúrgica do povo de Deus em nosso país!
Alegria e paz em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Nestas linhas, queremos partilhar com vocês um pouco do que foi e significou o Seminário Nacional sobre Metodologia da Formação Litúrgica, realizado em São Paulo, no Centro de Pastoral Santa Fé, de 8 a 11 de fevereiro de 2010, reunindo mais de 140 participantes, vindos de todo o Brasil, com o objetivo de aprimorar os processos metodológicos da formação litúrgica.

O evento foi uma verdadeira “escola” de formação, em clima de intensa fraternidade: na acolhida, na troca de experiências e saberes, na participação viva e alegre nas celebrações, nos momentos de lazer, na busca comum de aprofundamentos no que tange ao desafio da formação litúrgica hoje.

Preparado de longa data pelos três setores (Pastoral litúrgica, Música, Espaço) da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia, o Seminário teve a presença de pessoas diretamente envolvidas na formação litúrgica em todos os níveis de Igreja e contou com assessores que facilitaram o processo de crescimento do grupo, tanto na visão de conjunto e aprofundamento na questão metodológica, como na busca de perspectivas para o futuro.

Todo o caminho de reforma do movimento litúrgico, continuado e aperfeiçoado na Igreja pós-conciliar, foi pautado pela preocupação com a formação litúrgica.

Vivendo hoje numa mudança de época, em tempo de “espiritualismos” e de tantas liturgias desligadas da vida, nos damos conta de elementos importantes nos caminhos da formação litúrgica, dentre os quais se destaca: Não basta a reforma sem formação, e esta (a formação) como um processo mistagógico, ou, em outras palavras, como um permanente processo iniciático ao mistério que se celebra na ação ritual. A mistagogia (“ação de conduzir ao mistério”, ou ainda, “ação pela qual o mistério nos conduz” e, a partir da experiência do mistério na ação ritual, explicitar o sentido teológico do rito) é o método por excelência de formação litúrgica.

Conscientizamo-nos ainda de que, para a viabilização do caminho mistagógico, existem eficientes recursos metodológicos nos cursos de formação litúrgica, já utilizados entre nós e que estão dando certo. Ei-los:
1) Produção do conhecimento em mutirão (formadores e formandos buscando juntos);
2) Método “ver-julgar-agir” na ciência litúrgica (constatação e análise de uma realidade litúrgica, confronto desta com os dados da Tradição e, a partir daí, decidir critérios para o aperfeiçoamento na ação);
3) A técnica da observação participante (conhecer e formar-se participando de ações rituais e avaliando-as);
4) Laboratório litúrgico e vivências (vivenciar a unidade entre o gesto ritual, seu sentido teológico-litúrgico, a atitude espiritual e, a partir daí, exercitar a criatividade, buscando a melhor expressão possível de cada rito, dentro da cultura e do momento histórico de uma comunidade celebrante);
5) Leitura orante (Lectio divina) como método litúrgico: a) Leitura da Palavra, ou de uma oração litúrgica: O que diz o texto em si? – b) Meditação: O que o texto diz para mim? – c) Oração: O que o texto me faz dizer a Deus? – d) Contemplação: Olhar a vida com os olhos de Deus);
6) O processo de preparar, realizar e avaliar as celebrações é sumamente necessário e indispensável no processo de formação litúrgica.

O Seminário nos levou a produzir algumas conclusões ou indicações para a formação litúrgica:
1) Zelar pela organização do espaço litúrgico como memória do mistério nele celebrado e formador do corpo eclesial celebrante.
2) Privilegiar a música ritual como eminente espaço de formação litúrgica, tendo em vista a participação plena nas celebrações.
3) Priorizar as casas de formação como um tempo de iniciação à vida litúrgica e consequente espiritualidade, aplicando os métodos há pouco citados.
4) Nos Institutos e Faculdades de Teologia não basta apenas bons conhecimentos teóricos sobre a liturgia mas, sobretudo, impõe-se uma vivência celebrativa, aplicando os métodos adequados.
6) A formação litúrgica nas comunidades e paróquias seja preferentemente mistagógica, visando constituí-las num corpo celebrante que crie uma participação consciente, ativa e frutuosa, isto é, que leve as pessoas a uma vivência do mistério e compromisso com ele.
7) Nos cursos específicos e em escolas de formação litúrgica, adotar os métodos e recursos refletidos e sugeridos neste Seminário, de modo que os participantes vivam de fato a liturgia como cume e fonte de espiritualidade e missão.
8) A preparação das celebrações é, sem dúvida, um espaço de formação litúrgica, sobretudo quando privilegia o exercício da leitura orante e da vivência ritual, embasados numa sã e equilibrada teologia litúrgica.

Estimados irmãos e irmãs, estamos a caminho. Muito já foi feito. Muito temos ainda por fazer. Experiências riquíssimas do presente e do passado são luzes promissoras na preparação dos 50 anos da Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia, em 2013. Mantermo-nos num permanente nível de avaliação e aprofundamento: é o grande desafio.

Saímos alegres do Seminário, estimulados e com os olhos abertos para a realidade. Partimos confiantes de que o Espírito do Senhor está sempre sobre nós, nos consagra e nos envia em missão, missão esta que mantém aceso o fogo do amor de Deus. Que Deus nos abençoe e nos dê, sempre mais, maior amor pela liturgia, pelo mistério que nos salva e que salva o mundo.
Em Cristo, nossa Páscoa,

São Paulo, 11 de fevereiro de 2010.

Dom Joviano de Lima Júnior
Arcebispo de Ribeirão Preto
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia

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